A zeladoria nas terras de São Pedro

01-jun-2015

estúdio-sarasá - zeladoria 

Flávia Sutelo da Rosa[1] 

Já é público que, nos idos de 2003, Toninho Sarasá propõe a Zeladoria, diante da necessidade de se estabelecer conexões às atribuições de valores das pessoas às obras, a relação histórica dos bens com a sociedade, e não apenas a intervenção técnica e desassociada, questionando sua própria atuação junto ao Patrimônio Histórico Cultural.

O espírito do zelo principiou, portanto, diante das obras de restauro, na intenção da estima e retomada da mão de obra das artes e ofícios, por intermédio do aprendizado assistido, uma educação formadora. Com edições de cursos que se estabeleceram, ressalte-se a parceria com o Museu de Arte Sacra de São Paulo, que sediou essa concepção e faz-se berço, desde então, dessa importante vocação à preservação.

A teoria e a crítica ao processo sustentam o perigo de se delegar a implementação da preservação pelas mãos de qualquer um, quando anunciamos que a Zeladoria destina-se a todos. Ao proclamar tal democratização ao patrimônio histórico, falamos genuinamente do artifício do olhar, da acolhida, da intimidade e do resgate, não necessariamente da execução e da matéria, mas da condição humana. E isso é o que se espera, veementemente, que seja entendido. Simples assim.

O Estúdio Sarasá incute, mais do que nunca, essa força na sua atuação, pois inerente às raízes da família. Dentro da empresa, funcionários são tomados por essa afeição e fazem uso ao desenvolvimento pessoal e profissional. A Zeladoria, quando de suas explanações públicas, rende descobertas de patrimônios valiosos e esquecidos. Ela também estimula práticas culturais esmaecidas e é levada a eventos internacionais. Propõe oficinas resgatando ofícios tradicionais por todo o Brasil e, inclusive, faz parte de planos de gestão do patrimônio histórico e sacoleja a própria política cultural. As veias da Zeladoria, em seu fluxo atual, em projetos fundados intimamente no amor pelo patrimônio histórico e pela vida que dele ressuscita e, então, pulsa, são propulsoras do conhecimento, do pertencimento e empoderamento.

O Minuano chamou e, em meados do veranico de maio, o Estúdio Sarasá alçou a perna no ideal da Zeladoria e galopeou rumo ao Sul.

Na máxima “Ações simples que perpetuam grandes legados”, pleiteou-se o exaltar identidades, memórias e a atribuição de valores pelas pessoas ao patrimônio, naquela terra de tantas tradições. Adstrita ao material e imaterial, a Zeladoria busca compreender a história que conta o edificado, as artes nele incutidas e as vidas dali embebidas, que hoje merecem captação e o gesto do perenizar. Pela experiência que vem sendo colhida, essa prática, esse senso, esse animus, merece registro, divulgação, reconhecimento e, precipuamente, envolvimento e motivação de mais camadas, na estima da propagação.

Naquelas Paisagens de corpo e alma, chão de grandes heranças, a Zeladoria foi buscar, então, o elemento vivo do patrimônio.

Com a parceria do Ponto de Cultura Minha Cidade, Meu Patrimônio da Defender – Defesa Civil do Patrimônio Histórico, promoveu-se oficinas em Porto Alegre e Cachoeira do Sul, com a temática “O Uso da Cal no Patrimônio Cultural”, experiências muito gratificantes que cultuaram a transmissão dos saberes e fazeres, a preservação das técnicas tradicionais e a afabilidade pelos legados. O Estúdio Sarasá partilhou experiências de vida na Unilasalle, com “O Olhar da Zeladoria no Patrimônio Histórico”, visitou projeto cultural que realiza na cidade de Taquarí e encantou-se com  “O Taquaryense”, único veículo ainda produzido por tipografia na América latina. Apreciou-se os jardins do Palácio Piratini e vivenciada a protuberância de sua obra e sua gestão, dialogou acerca da política de conservação das edificações históricas juntamente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), bem como acompanhou-se o importante trabalho desenvolvido pelo Setor de Patrimônio Histórico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O sopro do vento foi do calor em nossos corações. Não só do fogo de chão, mas da força gaúcha e da intenção de seu povo na conservação do que lhes pertence e lhes é querido.

Nas palavras de Toninho Sarasá na sede do Executivo Estadual, na alma da Praça da Matriz, “As pessoas são mais importantes que as coisas. Elas precisam entender e apropiar-se do patrimônio, e olhar com carinho para ele”.

Sempre é bom voltar pra querência. Desde então, é difícil amansar a sentimentalidade, diante da chama da paixão pela arte e cultura, pelos símbolos, hábitos e costumes daquela identidade regional, onde a Zeladoria encontrou morada. Aqui, nosso registro de agradecimento à acolhida e o zelo gaúchos. Suas façanhas, de fato, fazem-nos modelo de vida. 


[1] Flávia Sutelo da Rosa é gaúcha, fruto de um projeto de Zeladoria do Patrimônio Histórico Cultural no Museu de Arte Sacra de São Paulo, em 2012. É advogada, com especialização em Gestão de Patrimônio e Cultura. Atua na Gestão de Projetos Culturais no Estúdio Sarasá, empresa militante nos campos da consultoria, projetos, conservação e restauro, educação patrimonial e pesquisa, capitaneada pelo Conservador Restaurador Toninho Sarasá.
Estúdio Sarasá Cconservação e Restauração –  contato@estudiosarasa.com.br / flaviasutelo@estudiosarasa.com.br

  • Voltar
  • Compartilhar
  • Topo