Tecnologia vai ajudar a recuperar capela histórica
23-abr-2013As paredes da Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, tesouro arquitetônico de Campinas, serão submetidas à avançada prospecção não invasiva. Câmaras que emitem raios especiais (como o infravermelho e o ultravioleta) farão uma espécie de radiografia detalhada, revelando detalhes das camadas aplicadas de revestimento. A partir daí, será possível resgatar as características da pintura original. A mesma técnica deve revelar afrescos e detalhes ornamentais que, ao longo do tempo, foram escondidas pela tinta em sucessivas reformas do prédio, integrado à Santa Casa, no Centro.
O trabalho, coordenado pelo restaurador paulistano Antonio Sarasá, trará para Campinas técnicos da Universidade de São Paulo (USP), vinculados ao Departamento de Física Nuclear. Trata-se da última, e mais complexa, etapa da completa restauração da capela centenária, iniciada em 2008. E a execução efetiva do projeto depende de investimentos do poder público e da sociedade civil. Desde que as intervenções começaram, tudo foi pago pelos católicos.
Patrimônio cultural tombado, a capela recebeu, desde 2008, R$ 1,5 milhão em recursos, arrecadados em missas, festas, jantares e outros eventos. A verba bancou a recuperação completa do telhado, sacristia, frontão externo, portas, janelas, assoalho. E agora, às vésperas da fase mais cara da reforma, os idealizadores fazem campanha para conseguiu patrocínio de empresas. Além da prospecção de alta tecnologia, se planeja recuperar forros, imagens, quadros e colunas de maderia que compõem a decoração interna. Trabalho que depende de recursos da ordem de R$ 9 milhões.
Sarasá é paciente. Ele, que elaborou voluntariamente o projeto de restauro, afirma que não há data marcada para a ação. Tudo depende dos recursos que entram no caixa.
O proponente do restauro é o Instituto de Saúde Integrada (ISI), organização não governamental (ONG) voltada ao aprimoramento profissional de servidores da Saúde fundada há seis anos. A entidade funciona em dependências anexas à própria Santa Casa. A diretora-executiva da ONG, Leide Mengatti, afirma que, por maior que seja a dedicação e o engajamento dos fiéis, a capela depende de doações maiores.
Existe o plano de se angariar recursos por meio de leis de incentivo fiscal (as empresas direcionam à cultura parte dos impostos devidos ao governo). Mas a grande estratégia do ISI é envolver a Prefeitura e a própria Igreja. O espaço pertence à Irmandade de Misericórdia de Campinas, mantenedora do hospital, mas a diretora acredita que o vínculo histórico dos religiosos com o patrimônio é decisivo. “O interesse se justifica: a capela guarda um acervo artístico belíssimo que remete aos primórdios do catolicismo em Campinas.”
Fechadura original
A última etapa concluída do projeto de restauro devolveu à capela a fechadura original, composta por uma chave com 20 centímetros de comprimento e engrenagens pesadas que movimentam os ferrolhos. As peças voltam a ser usadas na porta principal, depois de permanecerem anos e anos abandonadas, na oficina de manutenção do hospital. O próprio Sarasá se encarregou de recolher as peças destruídas e providenciar a reforma. Um processo que se arrasou por quase três anos.
“Foi incrível reecontrar a chave e as engrenagens, peças raríssimas, com mais de um século, que estavam esquecidas, desprezadas” , diz o oficial restaurador Reinaldo Masson de Carvalho. “Felizmente, hoje em dia, a sociedade dá mais valor à própria história.”