Zeladoria do Patrimônio Histórico Cultural
O Estúdio Sarasá, idealizou, desenvolveu e coordenou Programa Zeladoria do Patrimônio Histórico juntamente da Associação Amigos do Museu de Arte Sacra de São Paulo – SAMAS.
Esta oportunidade foi a terceira no sentido de qualificar mão de obra à preservação do Patrimônio Histórico e Cultural, material e imaterialmente.
Nas outras ocasiões, enfatizou-se as artes e ofícios, através de um processo de formação cidadã, que estimou a qualidade de vida e a inserção social. Não diferente dessa essência, a ocasião junto ao Museu de Arte Sacra abriu portas a um público diferenciado, representado por arquitetos, advogados, historiadores, estudantes, representantes da sociedade em geral, que mostrou a Zeladoria como programa democrático e inclusivo. Através dessa turma, analisando as práticas preservacionistas, viu-se da importância de se rever conceitos da própria gestão pública do patrimônio, repensando critérios, métodos, técnicas, resgatando saberes fazer e materiais, conscientizando acerca da importância do patrimônio cultural, formador da identidade e da cidadania, com o intuito da multiplicação e repercussão educativa e pedagógica.
Trata-se de uma política de educação patrimonial que prima pela qualificação e revívio dos bens culturais, que consiste em olhar, perceber, meditar e implementar ações simples de conservação e detença, arraizadas em uma política de preservação efetiva. Fundamenta-se na capacidade de leitura, entendimento dos avanços das degradações, posturas de restabelecimento e diretrizes ao salvamento das estruturas.
Respeitando a disposição dos aparelhamentos e, precipuamente, das características históricas inerentes, lança-se mão de ações de conservação, manutenção e zeladoria, perseguindo a máxima sustentabilidade da sua arquitetura e memória, forte nas premissas do conhecimento, pertencimento e empoderamento.
O texto a seguir é do arquiteto Carlos Lemos, reconhecido por seus projetos, docência e valioso triunfo na área da pesquisa histórica, das artes e preservação do Patrimônio:
O curso Zeladores do Patrimônio vem em boa hora, pois a nosso ver, sua idealização é mais que oportuna dada a desinformação geral existente a respeito da conservação de bens culturais arquitetônicos de interesse histórico ou artístico.
É generalizado o emprego da palavra “restauração” para designar intervenções em bens tombados, sem que se atine o verdadeiro significado da palavra. Com certeza, restaurar significa recuperar as condições técnico-construtivas originais. Significa voltar à volumetria e aos acabamentos genuínos da construção preservada. Isso é extremamente difícil de se conseguir, pois muitas técnicas construtivas já estão em desuso; muitos modos de fazer já estão completamente esquecidos e as razões de ser de alguns acabamentos estão fora do nosso entendimento.
Sobretudo na ocasião da troca de programas de necessidades por causa do desaparecimento no cotidiano contemporâneo das funções originais, devido antes de tudo ao progresso, é que surgem as dúvidas sobre a preservação de setores ou espaços remanescentes. Tal dificuldade quase sempre decorre do estado de conservação do bem cultural vitimado pela ausência de sua originalidade aqui e ali em razão do descuido de quem espera acontecer para depois remediar. Por isso tudo vê-se que o zelo é primordial porque, em qualquer situação, ele é a garantia de autenticidade e, assim, dispensa-se de vez a restauração propriamente dita.
Carlos A. C. Lemos
São Paulo, 27 de fevereiro de 2014.