Ponte Torta, cada vez mais viva na história de Jundiaí

01-nov-2014

Picôco Barbaro dá seu depoimento sobre a velha e boa Ponte Torta, cada vez mais viva na história de JundiaíPicoco-barbaro

Na última sexta estive no saguão do Paço Municipal para dar testemunho sobre a revitalização da Ponte Torta. Fiquei muito positivamente surpreso com a proposta dos depoimentos. Não há um enfoque técnico, ao menos para quem não seja da área, como é meu caso. É uma coleta de sentimentos em relação ao nosso monumento tantos anos esquecido. Vai ao encontro da minha concepção de como a História tem matizes registrados por anônimos que reforçam ou repelem os argumentos oficiais. As atas, os registros públicos e dos governos, os livros escritos sob o patrocínio de biografias e documentos consentidos, escolhidos sob a égide do mando do momento, servem de base para o cidadão comum se manifestar através dessas premissas. Não, necessariamente, para subscrever.

Eu e minhas circunstâncias

O maravilhoso, o deslumbramento da História está nesse livre pensar em torno de fatos que a nós outros cabe descobrir para além da oficialidade. Documentos descobertos fora do contexto oficial. Diários escritos ou orais transmitidos pela memória dos descendentes, o ouvir contar, são ricos em perspectivas, em ilações, em lendas que se contrapõem aos fatos e vice-versa. Há nesse controvertido, pelo menos, modo de pensar, um desejo de buscar a outra face da moeda. Mentiras e verdades. Ignorância e sabedoria. Método e diletantismo. Ética e estética. Conteúdo e forma.

O trabalho conduzido por Toninho Sarasá, especialista em memória, contratado pela Prefeitura, está me entusiasmando. Menos por eu ser chamado a dar testemunho, uma honraria, mas, mais, muito mais, pelo nível do que me foi perguntado. Segue exatamente o que venho propondo ao longo da vida: um arquivo (filmado) de testemunhos anônimos. Identificados, que sejam. Contudo, sem a objetividade de normas, de metodologias universitárias. A análise desses documentos é que deve ter rigor e critério de historiadores, sociólogos, antropólogos e demais especialistas  formados para ponderar os depoimentos. Se os dados forem analisados por filosofias, entendimentos, ideologias diferentes, tanto melhor.

Olhares e corações vagabundos: tijolinhos

E que tanto me foi perguntado e que tanto gostei e me entusiasmei? Nada além de relatar meus sentimentos sobre a Ponte Torta. Qualquer coisa como um olhar sem critério técnico ou artístico. Um olhar vagabundo como diz Norival Sutti. Uma emoção sob a égide de um coração vagabundo como gosto de dizer. O ato falho, a lágrima sem nexo, um momento de felicidade sem motivo. O inconsciente mandando em nós. Um subconsciente apalpando os fatos. O consciente pedindo socorro. A solidão e a solidariedade humana. Tijolo por tijolo edificando a História. Quando Toninho Sarasá escolheu o tijolo como símbolo da busca de nossas raízes, de nosso patrimônio, de restauração de nossas realizações, boas ou más, certamente encontrou o signo de nossa memória, de nossa lembrança, de nossa saudade. Do nosso para sempre. Não se trata de voltar ao passado. Trata-se de não querer nega-lo. Recordar tijolo por tijolo. A abstração concretizada. O sonho contado. A ilusão perdida. A quimera. A utopia. Pequenas realidades expostas à luz da insignificância do nosso egocentrismo que é como chegamos a um consenso coletivo. Coração à luz da razão. Instantes eternos. O efêmero, tijolinho, constituindo o eterno: pirâmides, palácios e palacetes, teatros, edifícios, arranha céus, logradouros, monumentos, estradas, túneis, pontes. Uma Ponte Torta.

A equipe responsável pelo resgate histórico Foto: Toninho Sarasá/Divulgação

A equipe responsável pelo resgate histórico Foto: Toninho Sarasá/Divulgação

Fonte: www.jundiaqui.com.br

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