Pequeno grande homem

08-jan-2010

portinari_cafe

Estúdio Sarasá – [1933] Pintura a óleo/tela 49.5 x 124cm
Brodowski, SP.
Assinada no canto inferior direito “Portinari”. Sem data
Banco Bradesco, Osasco, SP.

Gigante de 1,54 metro de altura, Cândido Portinari ensinou o que era o Brasil aos brasileiros

Antes de tudo, Brodowski não é Brodósqui. Desde pequenas, as crianças brodowskianas aprendem que o nome da cidade, na zona de influência de Ribeirão Preto, da qual dista 30 quilômetros, homenageia o engenheiro polonês Aleksander Brodowski, que certamente não gostaria de ser chamado de senhor Brodósqui. Depois, Brodowski não é a cidade onde viveu, mas onde vive Cândido Portinari, sua maior referência e um fator de identidade para o pequeno – 17 mil habitantes – município paulista. A obra de Portinari só pode ser entendida em sua real dimensão a partir de uma visita à casa em que passou a infância e à qual sempre voltou, desde 1970 transformada no Museu Casa de Portinari, a maior atração local – o museu, um dos mais freqüentados do Estado, já chegou a receber 1.000 visitantes num só dia. Foi lá, naquele povoado que surgiu de uma simples parada para carregar café, que Portinari, como nenhum outro artista brasileiro, sentiu as dores do mundo – as suas e as dos outros.

O menino Candinho ficava impressionado ao ver os funerais de migrantes nordestinos, que fugiam da seca e procuravam trabalho nas fazendas, envoltos num simples lençol. Se aquela gente não chorava lágrimas de pedra, como mais tarde mostraria nas telas, mesmo que passivamente, clamava por justiça. Portinari, que tinha como arma um pincel, denunciaria as injustiças sociais e, como não era um pintor de uma tecla só, também fixaria os momentos de alegria do povo, tipos, usos, costumes. O homem de esquerda, na vida e na obra, também nasceu em Brodowski: Portinari integrou o Partido Comunista, candidatou-se a cargos políticos e conheceu o exílio, na terra de sua mulher, Maria – o Uruguai. Pagou um preço por ter escolhido o povo brasileiro. Um compromisso que surgiu em sua cidade, mas se revelou na Europa, em 1930. ‘Vou pintar o Palaninho (um tipo popular de Brodowski), vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor.’

EM RESTAURO

Santa Luzia é a irmã, Ida, e São Pedro o pai, seu Baptista. Abrem-se as portas da pequena capela da Nonna, construída por Portinari na casa da família para que sua avó materna, Pellegrina, fizesse suas orações, e esses santos recebem o visitante. Ao lado, muitos outros, como Santo Antônio, São Francisco, São João Batista e a Sagrada Família, todos retratando amigos ou parentes do artista. Num espaço de 2,40 metros por 3,90 metros, com altura de 2,80 metros, Portinari realizou, com cores que deslumbraram Mário de Andrade, um dos momentos altos da pintura brasileira, agora em processo de restauro. Por enquanto, nada de grave ocorre – há uma fissura de 0,5 milímetro -, mas o arquiteto Toninho Sarasá e o restaurador Julio Moraes, mais que corrigir os problemas de agora, querem evitar problemas futuros.

A vertente mais moderna do restauro prega a conservação preventiva, ou seja, é preciso evitar que os males venham com o tempo. Na capela da Nonna, o problema maior é a estrutura do telhado, que pressiona as paredes e pode provocar fissuras. Assim, os técnicos reformarão o telhado, distribuindo ao máximo a carga em apoios auxiliares, ao mesmo tempo que farão o escoramento dos alicerces e colocarão uma cinta de concreto, não visível. O reforço da parte estrutural se dará junto com o restauro das pinturas, executadas nas técnicas de afresco e têmpera. O trabalho de restauro da capela, que deverá estar concluído até março de 2004, foi assumido pelo Grupo Pão de Açúcar, em parceria com o Museu Casa de Portinari e a Secretaria de Estado da Cultura.

Recentemente, também foi restaurada a tela Santo Antônio, que Portinari pintou em 1942, doando-a à Igreja de Santo Antônio, a primeira matriz de Brodowski, na praça em frente ao museu, que hoje leva o nome de Cândido Portinari.

Fonte: Revista Época

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