Mecanização dos engenhos remonta do início do século 20
08-set-2013O início da história da mecanização dos engenhos de açúcar em São Paulo repousa num prédio de tijolos ingleses a 3,5 quilômetros de Sertãozinho (333 km de São Paulo). Foi lá que o “rei do café” Francisco Schmidt implantou no começo do século 20 seu Engenho Central, um dos primeiros do Estado a usar máquinas a vapor na linha de produção.
Na década de 1960, Maurilio Biagi compra as terras para expandir sua área de plantio de cana e deixa o antigo engenho sem uso, mas preserva peças e maquinário.
Em dezembro, a fazenda Engenho Central, em Pontal (351 km de São Paulo), será aberta para visitação, como um memorial sobre a história da cana na região. Será a primeira etapa do projeto da família de transformar o local num Museu Nacional do Açúcar e do Álcool.
Para tocar o projeto, foi criado em 2006 o Instituto Engenho Central, que recebeu de Luís Biagi, filho de Maurilio, a doação de 12 hectares para abrigar o Engenho Central e uma região de mata com nascentes de rio. A área fica ao lado da fazenda Vassoural, também comprada de Schmidt pelos Biagi.
Dos R$ 10,5 milhões que teve autorização para captar via Lei Rouanet, o projeto conseguiu R$ 3 milhões, o que garantiu a primeira etapa: os prédios serão recuperados, o acervo, catalogado, e o local será aberto como memorial.
As peças que hoje podem ser vistas no engenho contam a história da industrialização da cana-de-açúcar.
Quando Schmidt decidiu montar o engenho, em 1906, teve que importar da Europa todo o maquinário, como as fornalhas fabricadas em Glasgow (Escócia), em 1886, e as caldeiras produzidas em Lille (França). As máquinas foram importadas pelo também cafeicultor Henrique Dumont, pai de Santos Dumont.
Com o tempo, as peças originais deram lugar a outras de fabricação nacional, como engrenagens da Dedini, de Piracicaba (160 km de São Paulo), e centrífugas da “Officina Bianchi”, de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo). O motor a vapor também foi trocado por um elétrico, quando a energia chegou.
Após a pesagem, os caminhões deixavam a cana numa esteira movida por polias em uma ponta do prédio de tijolos vermelhos, inspirado na arquitetura das ferrovias inglesas do século 19.
PRODUÇÃO
O açúcar já saía ensacado na outra ponta, com o carimbo “Açúcar Schmidt”, para, de trem, deixar a fazenda rumo à exportação. A fábrica chegou a ter cem operários.
“É como uma cápsula do tempo. Podemos ver toda a arqueologia do processo de produção do açúcar”, disse a historiadora Mirza Pellicciotta, do Estúdio Sarasá, contratada para fazer o trabalho de conservação arquitetônica e a pesquisa histórica.
A ideia de criar um museu é antiga na família. Em 1974, Luís Biagi comprou de um engenho em Pernambuco peças movidas a água e a tração humana (escravos, na época colonial) ou animal.
Com as moendas, vieram também os pães de açúcar –a peça, espécie de barril abaulado (que batiza o famoso morro carioca), era usada na decantação do açúcar.
Ao lado do antigo prédio do engenho, os Biagi construíram nos anos 70 um prédio para produzir álcool combustível e cachaça. Era a época do Proálcool, que incentivou o combustível. Marca de um outro tempo das histórias da cana guardadas no velho engenho. (FELIPE AMORIM)