Maior falha está no cuidado dos acervos
18-set-2011O levantamento do Sistema Estadual de Museus (Sisem) mostra que 73,7% das 415 instituições não têm sistema de climatização. “É extremamente preocupante”, avalia o especialista em museologia e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) José Leonardo Nascimento. “Documentos históricos, manuscritos, periódicos e pinturas são os itens que mais sofrem com o mau acondicionamento do acervo. Uma pintura a óleo vai escurecer, ou até quebrar. Fungos atacam se o acervo é mal guardado. Se é pintura sobre madeira, cupins atuam.”
Alessandra Jorge Nadai, diretora do Museu Histórico Gláucia de Castilho Brandão, de Penápolis, a 491 km da capital, tem consciência desse problema. A instituição, fundada em 1958, guarda acervo de jornais de mais de 100 anos e peças arqueológicas de um milênio. Não tem ambiente climatizado. “Aguardamos a reforma de um novo prédio, para onde devemos nos mudar até o fim do ano”, afirma.
A diretora ainda não sabe, entretanto, como a climatização será feita. “Precisamos de um estudo do impacto sobre a reserva técnica, pois as peças estão acostumadas com condições de temperatura elevada.” Especialistas concordam: há risco. “Depois de décadas em uma condição, a peça sofre para se adaptar aos padrões ditos ideais”, explica o arquiteto e restaurador Antonio Sarasá Martin.
Outro problema recorrente nos museus paulistas é a falta de reservas técnicas – situação de 71,1% do total. “É grave”, diz o museólogo Nascimento. “A exposição das peças torna-se muito intensa, facilitando a degradação. Sem reserva técnica, não há espaço adequado para restauro, o que prejudica a conservação.”
Em Sorocaba, a 107 km da capital, o Casarão Brigadeiro Tobias, museu destinado a contar a história dos tropeiros no Brasil, que funciona em um casarão de 1780 tombado pelo governo do Estado, está fechado há 12 anos, com problemas estruturais. O espaço nunca teve reserva técnica nem política de conservação. Mesmo um restauro entre 2007 e 2009 não foi suficiente. “É preciso uma reforma mais ampla antes de reabrir; não há nem banheiro”, disse a diretora de museus de Sorocaba, Sonia Nanci Paes.
Sem planejamento. Falta de política de conservação foi diagnosticada em 44,6% dos museus. Como o do Folclore, de Penápolis. Criada em 1974 pela professora Anésia Vince Ferreira, a instituição municipal sobrevive, em muito, graças aos esforços da própria fundadora – que, aos 83 anos, ainda dá expediente diário lá. No início do ano, o museu foi desalojado do prédio onde funcionava – ocupa um endereço provisório e está fechado à visitação. “Até o fim do ano, espero eu, teremos uma sede definitiva. É bom, porque eu já estava pensando que o museu iria morrer quando eu morresse”, diz Anésia.